O maior exportador da América já estava à beira do colapso, então as tarifas
A Boeing, maior exportadora dos Estados Unidos, enfrenta novos desafios decorrentes das tarifas. Isto poderia aumentar os custos de construção e prejudicar ainda mais a indústria da aviação global. Uma retrospectiva dos problemas contínuos.
O maior exportador da América já estava à beira do colapso, então as tarifas
A Boeing enfrentou vários problemas nos últimos seis anos. Novas tarifas – semelhantes às já em vigor – poderão desferir outro duro golpe para a empresa em dificuldades. Dada a importância da Boeing como maior exportador dos EUA, isto também poderá ter um impacto em toda a economia.
Consequências das tarifas sobre a Boeing e o mercado dos EUA
Os preços dos jatos Boeing poderão aumentar significativamente se outros países imporem as suas próprias tarifas sobre produtos norte-americanos. As tarifas existentes nos EUA também poderão aumentar os custos de produção das aeronaves, uma vez que a Boeing depende fortemente de fornecedores internacionais. Estes desafios somam-se aos problemas existentes, incluindo deficiências de segurança e qualidade que levaram a acidentes de avião e paragens de equipamentos, bem como a uma greve que interrompeu a produção durante dois meses no final do ano passado. A queda na procura por aeronaves durante a pandemia de Covid-19 também colocou a empresa numa posição difícil.
Preocupações económicas e a importância da indústria da aviação
Ron Epstein, analista aeroespacial do Bank of America, observa: “Se pensarmos numa indústria transformadora que exporta numa base líquida, porquê penalizá-la?” Já soam sinais de alarme sobre uma possível recessão nos EUA. As tarifas sobre aeronaves e componentes poderão ter impacto na produção de muitas fábricas aeroespaciais e dos seus fornecedores, acelerando ainda mais a recessão económica.
Apesar dos muitos desafios, a Boeing estima que a empresa apoia direta e indiretamente 1,6 milhões de empregos, incluindo quase 150.000 dos seus próprios funcionários nos Estados Unidos. Para além do impacto económico directo, os problemas da Boeing e do concorrente europeu Airbus também poderão afectar toda a indústria da aviação global. Atrasos nas entregas de novos jatos podem prejudicar as contratações no setor.
Desenvolvimentos atuais nas entregas de aeronaves
A Boeing divulgará os resultados financeiros do primeiro trimestre na quarta-feira, e os executivos falarão com os investidores no final da manhã. As tarifas serão certamente um problema - mas ainda não se sabe qual o impacto que terão. Uma primeira indicação dos problemas existentes tornou-se aparente no fim de semana passado, quando duas aeronaves de uma fábrica da Boeing na China foram enviadas de volta para a unidade de produção em Seattle, em vez de serem entregues a clientes chineses. O regresso poderia estar ligado a uma tarifa punitiva de 125% sobre as importações dos EUA, uma resposta à tarifa de 145% imposta pelos EUA à maior parte das importações chinesas.
O mercado da China e os efeitos da disputa comercial
A China representa o maior mercado e de mais rápido crescimento para aeronaves comerciais. A análise da Boeing mostra que as companhias aéreas chinesas deverão adquirir 8.830 novas aeronaves nos próximos 20 anos, representando 10% a 15% da procura global. Mas as tensões comerciais entre os EUA e a China já fizeram com que a Boeing perdesse terreno na concorrência com a rival europeia Airbus. Dos 122 pedidos de aeronaves Boeing em 2017 e 2018, o número caiu para apenas 28 pedidos nos seis anos seguintes, a maioria dos quais eram de cargueiros ou arrendamentos de empresas chinesas.
Problemas na cadeia de abastecimento e custos crescentes
A Boeing não pode simplesmente construir aviões em outra fábrica fora dos EUA para evitar tarifas porque a empresa é a maior exportadora do país e não monta aviões em outros países. Cerca de 80% dos jatos comerciais acabam nas mãos de companhias aéreas estrangeiras. O CEO da Boeing, Kelly Ortberg, disse em seu recente depoimento no Congresso: "O livre comércio é fundamental para nós. Ele cria empregos de alta qualidade e de longo prazo nos Estados Unidos".
A Boeing ainda tem uma enorme carteira de 195 aeronaves de companhias aéreas chinesas e até 678 outras encomendas não confirmadas – muitas das quais também podem vir da China. Mesmo que os pedidos de aeronaves da China sejam cancelados, a empresa tem uma carteira global de vários anos que poderia permitir-lhe encontrar compradores alternativos. No entanto, se as tarifas sobre aeronaves americanas também fossem impostas noutros países, isto poderia tornar-se mais difícil.
Aumento dos custos de produção e o impacto nos fornecedores
Contudo, os desafios da Boeing não se limitam às vendas e entrega de aeronaves; o próprio edifício também pode ser afetado. A empresa depende de peças estrangeiras, que constituem cerca de 80% do conteúdo de seus aviões. Por exemplo, as asas do 787 Dreamliner – a aeronave mais valiosa e cara da Boeing – vêm do Japão. O problema é agravado pelos longos prazos de certificação dos novos fornecedores americanos, que podem levar mais de um ano.
Isso significa que a Boeing continua dependente de peças estrangeiras – aumentando ainda mais o custo de construção de uma aeronave que já custa entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões. Ainda não está claro se existe um cliente da Boeing disposto a arcar com esses custos adicionais. Além disso, fornecedores como a Spirit AeroSystems, da qual a Boeing adquire peças, já alertaram os investidores sobre “dúvidas significativas” sobre sua capacidade de permanecer no negócio. Se a situação financeira se deteriorar ainda mais, isso poderá ter consequências de longo alcance para todo o setor de fornecimento de aviação.