Netanyahu defende tomada da Cidade de Gaza – ONU alerta para catástrofe
O primeiro-ministro israelense, Netanyahu, defende a tomada militar planejada da Cidade de Gaza enquanto a ONU alerta sobre mais desastres. A rejeição internacional às suas acções está a crescer.

Netanyahu defende tomada da Cidade de Gaza – ONU alerta para catástrofe
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem seu planejado ataque militar sobre a cidade de Gaza, num contexto de crescente condenação e indignação internacionais. Funcionários da ONU alertam que a medida pode levar a “outra catástrofe” num território já assolado pela crise e faminto.
A defesa de Netanyahu da ação militar
Numa rara conferência de imprensa com os meios de comunicação internacionais, Netanyahu afirmou que a controversa operação para assumir o outrora maior cidade de Gaza foi a forma mais rápida de acabar com a guerra, apesar da enorme oposição interna e internacional. “Ao contrário das falsas alegações, esta é a melhor maneira de acabar com a guerra e rapidamente”, disse Netanyahu. “É assim que encerramos a guerra.”
Reações internacionais aos planos militares
Na madrugada de sexta-feira, o gabinete de segurança de Israel aprovou planos para capturar a cidade de Gaza com o objetivo de destruir o Hamas e libertar os reféns detidos na área. No entanto, estas medidas suscitaram receios de que ocorressem novos combates Colocar reféns em perigo e agravaria a já catastrófica crise humanitária.
No palco da ONU, no domingo, Israel enfrentou críticas, inclusive da Grã-Bretanha, Rússia, China e França, que se opuseram fortemente aos planos militares de Netanyahu para Gaza, chamando-os de “mais violação do direito internacional”. Miroslav Jenča, secretário-geral adjunto da ONU para a Europa, Ásia Central e Américas, alertou que a implementação destes planos provavelmente desencadearia outra catástrofe em Gaza que poderia impactar toda a região.
Crise humanitária em Gaza
Ramesh Rajasingham, chefe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) em Genebra, disse que a situação em Gaza “não é mais uma crise de fome iminente – isto é uma fome clara”. As mortes por fome estão a aumentar na região, especialmente entre crianças com subnutrição grave. Desde Outubro de 2023, 98 crianças morreram de desnutrição aguda grave, 37 só desde 1 de Julho.
“Honestamente, perdemos palavras para descrever as condições humanitárias”, disse Rajasingham, “que são mais do que atrozes”.
Isolamento dos EUA no contexto da política de Israel
A operação militar expandida de Israel representa “não um caminho para a resolução, mas um caminho para mais derramamento de sangue”, segundo o Reino Unido. A Rússia condenou o plano de colocar Gaza sob o controlo das suas forças de segurança como "passos perigosos" que minam as já frágeis perspectivas de uma resolução pacífica para o conflito no Médio Oriente. Dinamarca, Coreia do Sul, Grécia, Eslovénia e Guiana também se juntaram ao coro de rejeição e apelaram a Israel para reconsiderar a sua decisão.
Protestos e demandas por mudanças em Israel
Os EUA, sentindo-se cada vez mais isolados no seu apoio às ações de Israel em Gaza, disseram que estavam a trabalhar “incansavelmente” para libertar os reféns e acabar com a guerra. A Embaixadora dos EUA na ONU, Dorothy Shea, acusou os membros do Conselho de Segurança de “prolongarem activamente a guerra” e de “conquistarem vitórias de propaganda para terroristas” ao espalharem mentiras sobre Israel. “A verdade é que esta guerra pode terminar hoje se o Hamas libertar os reféns e toda Gaza”, disse Shea.
No próprio Israel, as famílias dos reféns israelitas ali detidos apelam a uma greve geral nacional no próximo domingo.
O plano de Netanyahu e suas consequências para Gaza
O plano de Netanyahu aproxima Israel da ocupação total de Gaza, algo que não acontecia há quase 20 anos. Os militares israelitas já controlam cerca de 75% de Gaza após quase dois anos de guerra. Os analistas argumentam que o plano, iniciado pelo próprio Netanyahu, diz mais sobre as suas manobras políticas internas do que sobre uma estratégia militar bem pensada. O plano dá a Netanyahu tempo para lutar pela sua sobrevivência política.
Netanyahu descreveu a Cidade de Gaza e os campos centrais na área sitiada como os “dois bastiões restantes” do Hamas. “Dada a recusa do Hamas em depor as armas, Israel não tem outra escolha senão terminar o trabalho e completar a derrota do Hamas”, disse ele.
Declaração do Hamas e condições humanitárias
O Hamas disse no domingo que a única forma de garantir a “sobrevivência” dos reféns israelitas era parar as operações militares em Gaza e chegar a um acordo de paz. “Netanyahu continua a manipular a questão (dos reféns israelenses) como pretexto para continuar a agressão e enganar a opinião pública”, afirmou o grupo em comunicado.
Netanyahu continua a negar a existência de um Crise de fome em Gaza, apesar de relatos em contrário de organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas. A UNICEF publicou nas redes sociais que o número de casos de desnutrição aguda entre crianças em Gaza era “impressionante”. Só em Julho, quase 12.000 crianças foram identificadas como gravemente desnutridas, representando o número mensal mais elevado alguma vez documentado.
Netanyahu culpou o Hamas pela escassez de alimentos e acusou o grupo de sequestrar ofertas de ajuda. Quando questionado sobre as declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, há duas semanas, sobre uma “verdadeira fome” em Gaza, o líder israelita evitou a pergunta, embora apreciasse o apoio de Trump.
Netanyahu e Trump discutiram os planos de Israel para a guerra em Gaza no domingo, de acordo com uma breve declaração do gabinete do primeiro-ministro israelense. “Os dois discutiram os planos de Israel para assumir o controle dos bastiões restantes do Hamas em Gaza para encerrar a guerra com a libertação dos reféns e a derrota do Hamas”, disse o comunicado.