A Alemanha na era das vozes baixas: quem ainda se atreve a falar?

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O artigo analisa como o surgimento de partidos populistas na Alemanha serve como uma lição democrática e influencia a forma como a diversidade de opiniões é tratada.

A Alemanha na era das vozes baixas: quem ainda se atreve a falar?

No actual clima político da Alemanha, muitos cidadãos mostram uma tímida relutância em expressar publicamente as suas opiniões. Este desenvolvimento tornou-se claro num debate sobre a liberdade de expressão na Alemanha, que se concentrou nas próximas eleições estaduais na Saxónia, Brandemburgo e Turíngia. Um inquérito mostrou que apenas 40 por cento dos inquiridos sentiram que eram capazes de expressar livremente as suas opiniões políticas.

Esta situação é transversal a vários níveis da sociedade, com muitas pessoas a levantarem a voz por medo de consequências negativas, como a perda do emprego ou o isolamento social. Tornou-se claro que a pressão pela conformidade nos meios de comunicação social e na política tornou-se esmagadora, o que restringe severamente a liberdade de expressão. Isto faz parte de um fenómeno mais amplo que pode ser observado em muitas democracias ocidentais.

O papel da AfD

Nesta perspectiva, a AfD, fundada em 2013, representa um exemplo de forma saudável de expressão para movimentos populistas dentro da democracia. Surgiu como uma resposta a decisões políticas, especialmente no que diz respeito à política de migração desde 2015. Aqui, os esforços legítimos dos cidadãos para expressar os seus interesses e preocupações são percebidos dentro de um quadro democrático. No entanto, muitos outros partidos estabelecidos parecem considerar a dissidência populista como ilegítima, o que está a fazer com que cada vez mais pessoas se afastem deles.

Esta separação e exclusão fortalece a posição da AfD, à medida que os cidadãos se sentem cada vez mais compreendidos, o que mina a confiança nos partidos estabelecidos. Um ponto notável é que muitos cidadãos são fortalecidos pelas experiências e sentimentos que associam aos populistas na sua opinião de que a política actual não se preocupa com as suas preocupações. Esta percepção poderá aumentar a probabilidade de tais partidos populistas continuarem a ganhar apoio no futuro.

A crise da democracia

A situação actual também pode ser interpretada como um sintoma de um duplo fracasso da democracia. Lidar com os movimentos populistas emergentes desempenha aqui um papel central. Muitos partidos estabelecidos parecem ser incapazes de responder adequadamente às necessidades dos eleitores. Em vez disso, tentam combater a concorrência através da exclusão, o que corrói ainda mais a fé numa democracia funcional.

Um exemplo do tratamento prejudicial dispensado a pessoas que pensam diferente é a polêmica campanha publicitária da rede varejista Edeka. Antes das eleições estaduais na Saxônia e na Turíngia, Edeka colocou anúncios em grande escala alegando que a cor azul, associada à AfD, era uma cor de alerta para incompatibilidade. Tais medidas poderiam potencialmente apelar aos eleitores que nunca quiseram identificar-se com a AfD, apenas aumentando assim a contradição.

Outro factor que favorece o florescimento dos movimentos populistas é o mal-entendido generalizado de que a democracia representa uma certa visão, geralmente de esquerda liberal, que precisa de ser defendida. As coisas tornam-se perigosas quando as expressões de opinião são vistas como uma ameaça à democracia. Numa democracia saudável, deveria ser tarefa de todos os partidos facilitar um discurso justo em vez de exigir uma ditadura da maioria.

Entretanto, porém, a pressão social é tão grande que muitas pessoas não estão dispostas a revelar as suas verdadeiras opiniões, levando a um clima em que as vozes populistas estão a ganhar força. A imagem que emerge é a de uma sociedade em que o medo das consequências determina o bom comportamento em vez da livre troca e do debate democrático.

Desenvolveu-se na Alemanha uma cultura de vozes baixas, onde muitos preferem expressar as suas opiniões à porta fechada em vez de correrem o risco de serem criticados em contextos sociais ou profissionais. Esta dinâmica poderá ter efeitos de longo alcance e de longo prazo no cenário político do país, criando um terreno fértil para movimentos mais populistas.

As razões para este fenómeno são variadas e não estão relacionadas apenas com o medo da repressão. A discussão actual sobre migração, desigualdade económica e divisões sociais reflecte-se no confronto com a realidade política. Isto é impressionantemente evidente no contexto das próximas eleições estaduais, onde a AfD se tornou uma força política séria que não pode mais ser ignorada.

Um conhecido especialista, Ralf Schuler, afirma no seu livro “A Vitória dos Populistas” que a confiança dos cidadãos nos partidos estabelecidos foi severamente abalada. Os eleitores muitas vezes veem os populistas como o único meio de expressar o seu descontentamento. Ao não levarem os eleitores a sério, os partidos estabelecidos correm o risco de perder cada vez mais esses votos para os seus concorrentes. Isto significa que o cenário político da Alemanha poderá mudar significativamente se não for finalmente repensado.